sábado, março 21, 2009

D. Nuno Álvares Pereira

- Um novo santo que foi senhor das Terras de Basto


“Só da fé, só do bem quedam memórias:
Tudo o mais é poeira, um vão ruído,
Uns tumultos de sombras ilusórias…”
PATRIA, de Guerra Junqueiro



Nuno Álvares Pereira nasceu no dia 24 de Junho de 1360 em Cernache de Bonjardim, no concelho da Sertã. Era filho ilegítimo de D. Álvaro Gonçalves Pereira, prior da ordem de S. João do Hospital e neto de D. Gonçalo Pereira, Arcebispo de Braga.
De ascendência nobre, foi viver ainda muito novo para a corte de D. Fernando, entrando ao serviço da rainha D. Leonor Teles com apenas treze anos, começando a servir como escudeiro da monarca e mais tarde também o armou cavaleiro. Leitor assíduo de romances de cavalaria, sonha, a exemplo de Galaaz, fazer votos de castidade.
Contudo, em 1376 é obrigado por seu pai a casar com D. Leonor de Alvim, de família nobre, natural de Salto, concelho de Montalegre e já viúva de D. Vasco Gonçalves Barroso, alcaide do castelo de Montalegre. Deste casamento não houve filhos. “Esta mulher chamou-se Leonor de Alvim, mas poderia ter-se chamado Leonor de Pousada se o seu avô Pedro Soares de Pousada não se tivesse mudado deste lugar perto de Celorico de Basto, para o de Alvim onde construiu o solar da família”.
Dizem as crónicas que Leonor de Alvim era uma mulher rica e bonita, mas apesar disso, Nuno Álvares Pereira não queria casar, pois preferia seguir a carreira das armas.
No entanto, a vontade do seu pai, que tinha trinta e dois filhos de três mulheres, foi mais forte: “Nuno és homem e farás casa. Achei-te noiva entre Douro e Minho. Ela anuiu, pondo como única condição a aprovação de El-Rei que a mandou já vir para a corte. É D. Leonor de Alvim, boa, de boas rendas e cabedal: viúva de Vasco Gonçalves, de Barroso. Vem a caminho, é muito nobre dama e de grande virtude; e a minha vontade manda, se Deus aprouver, que te cases com ela.
O rei D. Fernando e a rainha D. Leonor Teles presidiram às bodas, uma festa que decorreu na corte. Os noivos partiram para o Bonjardim e de lá para a Quinta de Santa Marinha de Pedraça, perto de Arco de Baúlhe, concelho de Cabeceiras de Basto. Aqui viveram durante três anos, até 1379, e do casamento tiveram três filhos. Dois rapazes (que morreram jovens) e uma menina a quem, os pais, puseram o nome de Beatriz que, no ano de 1401, casou com D. Afonso, filho bastardo do rei D. João I. Efectivamente foi este casamento que (por inspiração de D. Nuno Álvares Pereira) fez nascer a poderosa Casa de Bragança, ainda hoje representada no Palácio de Vila Viçosa.
A prestigiada Casa de Bragança, embora oficialmente criada em 1442, na pessoa de D. Afonso, genro de Nuno Álvares Pereira, foi inspirada por este, com base nas suas terras e nos títulos honoríficos, e a partir de 1640, foi chamada a ocupar o trono, dando origem à Dinastia Brigantina (1640-1910).
Mas a vida no Minho não satisfazia Nuno Álvares Pereira, que sempre se viu talhado para a guerra, e o país precisava muito de homens de armas. O reino encontrava-se em crise e a sofrer as investidas dos exércitos castelhanos.
Com a morte de D. Fernando I, em 1383, e perante a inexistência de um herdeiro masculino ao trono, a sucessão do trono ficava entregue à sua filha D. Beatriz, mulher de D. João I de Castela.
A independência de Portugal estava em perigo. Nesta altura, Nuno Álvares Pereira já era um experiente e determinado chefe militar e não hesitou em apoiar incondicionalmente o mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro I, a ascender ao trono de Portugal.
Com a nomeação do mestre de Avis como regedor e defensor do Reino, verifica-se a entrada de Nuno Álvares Pereira para o conselho do governo.
O primeiro feito acontece a 6 de Abril de 1384, quando as forças do mestre de Avis, comandadas por Nuno Álvares Pereira, derrotaram os castelhanos em Atoleiros. Um ano depois, a 6 de Abril de 1385, nas cortes de Coimbra, D. João I, o mestre de Avis é aclamado rei de Portugal.
No dia seguinte, Nuno Álvares Pereira era elevado à condição de Condestável do reino, titulo que lhe é atribuído por D. João I, indicando o mais alto cargo militar da sua época.
A batalha decisiva ocorre no dia 14 de Agosto de 1385 em Aljubarrota, com um exército claramente inferior ao número castelhano, onde Nuno Álvares Pereira aplica a táctica do quadrado. Dois meses mais tarde, na incursão a Valverde, obtém nova vitória sobre os castelhanos. No campo militar ainda participou em 1415 na campanha de Ceuta.
D. João I recompensou Nuno Álvares Pereira com quase metade do País, em terras e mordomias, tendo sido também senhor das terras de Basto, entre outras.
Em 1388 iniciou a edificação da capela de São Jorge de Aljubarrota e, em 1389, a do Convento do Carmo, em Lisboa, onde se instalaram os frades da Ordem do Carmo, no ano de 1397.
Após a morte da sua mulher, em 1388, a concretização de anseios espirituais retirou-o do mundo para a Ordem dos Carmelitas.
Morreu a 1 de Novembro de 1431, numa cela austera do mosteiro que tinha mandado construir, mas o seu túmulo foi destruído no terramoto de 1755.


Beato Nuno Álvares Pereira
será canonizado em 26 de Abril de 2009




Nuno Álvares Pereira subiu ao mais alto posto militar; detentor de grande riqueza, proveniente da sua condição; íntimo da Corte Real, que serviu com lealdade e dedicação; veio depois a abandonar tudo para se fazer um simples irmão leigo carmelita, numa total doação da sua vida a Deus, recolhido em oração.
“Era o homem mais rico de Portugal que se fez pobre e padre por amor aos pobres a à Igreja” descreveu-o assim o frade carmelita Francisco Rodrigues.
O “Santo Condestável”, como sempre foi conhecido por cá, foi beatificado em 23 de Janeiro de 1918, pelo Papa Bento XV, tornando-se Beato Nuno de Santa Maria.
Em 1940, Pio XII manifestou o desejo de canonizar o beato por decreto, mas logo abandonou a intenção, prosseguindo pelas vias normais.
Após várias vicissitudes, a Ordem do Carmo, onde o militar ingressou, e o Patriarcado de Lisboa decidiram retomar a defesa da causa da canonização, cujo processo foi reaberto a 13 de Julho de 2004, nas ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa, em sessão solene presidida por D. José Policarpo.
No decorrer dos tempos, o povo prestou culto à sua figura, atribuindo-lhe inúmeros milagres.
A canonização assenta na cura milagrosa relatada por Guilhermina de Jesus, uma sexagenária de Vila Franca de Xira, que sofreu lesões no olho esquerdo ao ter sido atingida com salpicos de óleo a ferver quando estava a cozinhar.
Após o acidente, em Setembro de 2000, a idosa consultou vários especialistas e, depois de várias novenas, na noite de 7 de Dezembro desse ano, rezou de forma intensa ao beato Nuno, tendo beijado uma imagem sua.
“Logo sentiu uma paz imensa. Foi sentar-se no sofá, ligou a televisão e apercebeu-se que via desse olho”.
A cura foi analisada e considerada milagrosa por uma equipa de cinco médicos e teólogos em Roma.
A Congregação das Causas dos Santos viria a aprovar as conclusões qua a cura não tinha explicação científica.
Após 1143, os fiéis canonizados em Portugal foram São Teotónio, Santo António, Santa Isabel, Santa Beatriz da Silva, São João de Deus, São Gonçalo e São João de Brito.
Dia 26 de Abril próximo o Papa Bento XVI vai canonizar Nuno Álvares Pereira, o 8º santo português.
A sua memória litúrgica celebra-se, actualmente, a 6 de Novembro e os católicos portugueses vão rejubilar, por verem D. Nuno Álvares Pereira elevado aos altares.